sexta-feira, dezembro 16, 2011

Escavação - Mário de Sá-Carneiro


Numa ânsia de ter alguma cousa,
Divago por mim mesmo a procurar,
Desço-me todo, em vão, sem nada achar,
E a minh' alma perdida não repousa.

Nada tendo, decido-me a criar:
Brando a espada: sou luz harmoniosa
E chama genial que tudo ousa
Unicamente à fôrça de sonhar...

Mas a vitória fulva esvai-se logo...
E cinzas, cinzas só, em vez do fogo...
-Onde existo que não existo em mim?

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Um cemitério falso sem ossadas,
Noites d' amor sem bôcas esmagadas-
Tudo outro espasmo que princípio ou fim...



Mário de Sá-Carneiro, in 'Dispersão'