terça-feira, outubro 19, 2010

Mito da Caverna de Platão



A Alegoria da Caverna traduz o essencial do pensamento de Platão, tanto no domínio do conhecimento como no da acção. Sócrates descreve os "estranhos prisioneiros" que se "assemelham a nós próprios". Desde a mais tenra infância os homens estão acorrentados numa caverna obscura e olham em frente, sem poderem virar a cabeça noutra direcção. Aquilo que contemplam, na parede da caverna que se ergue diante deles, não é mais que uma projecção de sombras. Modernamente, isto parece uma evocação exacta do dispositivo do cinema!... Os prisioneiros são, pois, os espectadores de um filme que tomam pela realidade. Ignoram a existência da cabine de projecção, e sobretudo ignoram que ela vem do mundo exterior, onde se encontram as verdadeiras coisas. Se se remover da caverna um desses prisioneiros-espectadores, ele irá sofrer. Será preciso obrigá-lo a subir os degraus que conduzem à saída. Lá fora, ficará deslumbrado pela luz. Quando os seus olhos se habituarem à luz, ele poderá enfim contemplar as realidades das quais apenas conhecia as sombras, bem como o sol que lhes dá a visibilidade.
Platão dá-nos pois a entender que este mundo em que vivemos não é mais do que o reflexo de um outro mundo, mais real ainda. O filósofo, prisioneiro resgatado da caverna, encontra o acesso a esse universo inteligível. E uma vez lá fora descobre aquilo que equivale ao Sol no mundo real: a ideia do Bem (o Uno-Bem-Belo) que ilumina todas as outras coisas.

-Introdução de Roger-Pol Droit, Platão, Colecção Grandes Filósofos